quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Bipolar

O senhor de terno na televisão
Me mostra um mundo de felicidade
Que mexe com meu coração.
Com fala mansa diz palavras bonitas
Que mais parecem uma canção.
Ele oferece casa, saúde, segurança
Alimento, vários bandidos no camburão.
Enérgico, de postura valente,
Diz que vai salvar nossa nação.
De manhã, no horário político
É um perfeito exemplo de cidadão.
À noite, no seu majestoso castelo
Conta os ganhos de sua profissão.
É um senhor experiente, esperto,
Mestre na arte da enganação.
Pra acabar com essa tristeza,
Esse encosto, essa maldição,
É necessário um estopim, um movimento,
Desde cedo uma grande revolução,
Pois esse homem que se diz ético,
Esse cara simpático, um amigão,
Nunca se importou com pobre,
Só com baile de gala na mansão.
Há muito tempo, usa o sapato de couro
Pra pisotear a nossa mão.
Esse homem tão culto, tão rico
É na verdade um pilantra, um ladrão
Que nos apresenta um mundo de luz
Mas sempre nos rouba na escuridão.


Por: Elvio Fernandes

domingo, 12 de setembro de 2010

Estado terminal

Quarenta e cinco anos, trabalhadora.
Apenas dez deles como criança.
Trinta e cinco de batalhadora,
Alegria? Só existiu na lembrança.

Como muitos nasceu pobre
E como pobre sempre viveu.
Dependente do estado nobre,
Como pobre também morreu:

Tinha um filho pra criar.
O marido se foi, nunca voltou.
Desde cedo aprendeu a lutar
E de punhos cerrados, sempre lutou.

A dor veio cedo, inexplicável.
Por um exame, meses de espera.
Cinco meses de dor insuportável,
O corpo portando uma fera.

Enfim o diagnóstico e a tristeza.
Câncer. Agora só resta morrer.
Não restavam dúvidas, era certeza.
“Não há nada que possamos fazer.”

Quarenta e cinco anos, trabalhadora.
Apenas dez deles como criança,
Trinta e cinco de batalhadora.
Alegria? Só existiu na lembrança.

Como muitos nasceu pobre,
E como pobre sempre viveu.
Dependente do Estado nobre
Como pobre também morreu.

O menino teve de seguir a vida.
Aos dez começou a trabalhar.
Carregou sempre uma ferida,
Uma ferida que nunca irá sarar.

Viveu triste, mas batalhador.
Como a mãe, também sofreu,
Mas nunca mostrou sua dor.
Foi forte, e mesmo forte viveu

Em estado terminal, sem salvação,
Uma vida difícil, sem calma,
Pois contraiu ódio no coração
E um tumor maligno na alma.


Por: Elvio Fernandes